Diálogos
Psicologia Clínica, Psicoterapia, Psicanálise
Personalidades Histriónica
Na Antiga Roma, o termo “histrião” era usado para referir os actores ou actrizes que interpretavam situações do quotidiano de forma exagerada e hiper-dramatizada, através de sátira, da comédia ou da tragédia, e que tinham o propósito de captar a atenção dos espectadores.
Tal pode ilustrar o comportamento da Personalidade Histriónica. Emotividade lábil e superficial, procura de atenção, dificuldades na sexualidade, dependência e desamparo, bem como autodramatização fazem com que as Personalidades Histriónicas sejam mal compreendidas, entendidas como superficiais ou exageradas. No entanto, estes indivíduos vivem com sofrimento e dor emocional por conflitos internos de longa data não resolvidos, e que se exprimem em ciclos repetitivos de dificuldades relacionais na esfera íntima e no trabalho.
Características das Personalidades Histriónicas
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Necessidade de ser o centro das atenções.
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Comportamento sexualmente sedutor em contextos inadequados.
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Relações conflituosas com figuras do mesmo sexo.
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Labilidade emocional, alterações súbitas dos estados emocionais.
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Sugestionabilidade (identificar-se àquilo que imagina que os outros querem de si).
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Discurso impressionista e carente de detalhes, dramatização, teatralidade e exagero.
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Responsabilização dos outros por desilusões e falhanços pessoais.
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Sentimentos de inautenticidade, falta de propósito e desamparo.
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Afectos depressivos marcados por sentimentos de inferioridade.
Existe a percepção cultural de que a Personalidade Histriónica é característica das mulheres. No entanto, há extensa documentação sobre a observação deste tipo de personalidade em homens, que no caso toma a forma de hiper-masculinidade, tal como nas mulheres assume a forma de hiperfeminilidade.
Compreender a Personalidade Histriónica
O processos do pensamento dos indivíduos com Personalidade Histriónica tendem a ser impressionistas, ou seja, relativamente difusos e carentes de nitidez, especialmente em detalhes significativos. Por exemplo, se perguntarmos "como foi o fim de semana?", tendem a responder "foi óptimo" ou "foi horrível", sem detalhes que apoiem a resposta. O mesmo acontece, por exemplo, ao se referirem a pessoas importantes da sua vida. Se pedirmos para descrever o pai, dizem “É espectacular!”. Os sujeitos com Personalidade Histriónica têm uma inibição do processamento de informação, que serve como defesa pelas emoções para inibir o aparecimento de ideias e representações desagradáveis e dolorosas.
O funcionamento histriónico tem por origem um sentimento de falta de confiança básica e uma incerteza fundamental em relação à sua capacidade de se fazer amar. A sedução surge como uma tentativa de colmatar este sentimento de falha fundamental e visa captar a atenção do outro, actuando ao mesmo tempo como uma forma de reforço do narcisismo e uma ocultação da problemática fundamental, que não é seduzir, mas obter reconhecimento. Uma ocorrência comum na Personalidade Histriónica é a surpresa quando o outro lhe responde como se tivesse sido sedutoras ou sexualmente provocatória. Por outras palavras, há uma dissociação entre a sedução explícita, inconscientemente elaborada para atrair a atenção do outro, e o modo como isso afeta o outro.
Intervenção terapêutica na Personalidade Histriónica
A intervenção terapêutica deve promover, progressivamente, a entrada em contacto com os sentimentos de insegurança, vulnerabilidade e insuficiência narcísica subjacentes, e a sua elaboração, tendo como objectivo fortalecer as funções do Eu. Entre outras, trata-se de trabalhar a estruturação do "Não", a modulação da frustração, a neutralização dos impulsos, o aumento da capacidade de representar o mundo interno e a possibilidade de deliberação autónoma. Ao nível relacional, deve-se fornecer um modelo de dependência maduro, viabilizando o estabelecimento de relações mais estáveis e gratificantes para o sujeito.